quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Devaneio noturno

De braços cruzados na escuridão
Ela, insone, sente o ventilador refrescar os pés crus,
Esticados na vastidão da cama.

Só.
Está só abaixo dum universo inteiro negro.
É madrugada.

Nada apaga suas marcas desnudas
Pelas vestes curtas
Suas marcas na alma são escuras

Mas pode vê-las
Vê-las em seu sorriso pobre ensaiado,
Em seus olhos morosos e gestos insólitos.

A garganta clama um grito,
E a voz encolhida se perpetua
Em rumores compartidos

Na falta de abraços, ainda que partidos
E se refaz de restos incertos de dias sem programação:
Humana devassidão visita-a sem ocasião

E perdurável segue o brilho em seus olhos,
Que olham este submundo obscuro
Com paixão.

Um comentário:

Neto Cruz disse...

"Só.
Está só abaixo dum universo inteiro negro.
É madrugada."

Singelo e profundo, com a ternura comum aos seus versos. Gostei especialmente deste poema..
Beijo