Devaneio noturno
De braços cruzados na escuridão
Ela, insone, sente o ventilador refrescar os pés crus,
Esticados na vastidão da cama.
Só.
Está só abaixo dum universo inteiro negro.
É madrugada.
Nada apaga suas marcas desnudas
Pelas vestes curtas
Suas marcas na alma são escuras
Mas pode vê-las
Vê-las em seu sorriso pobre ensaiado,
Em seus olhos morosos e gestos insólitos.
A garganta clama um grito,
E a voz encolhida se perpetua
Em rumores compartidos
Na falta de abraços, ainda que partidos
E se refaz de restos incertos de dias sem programação:
Humana devassidão visita-a sem ocasião
E perdurável segue o brilho em seus olhos,
Que olham este submundo obscuro
Com paixão.
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Um comentário:
"Só.
Está só abaixo dum universo inteiro negro.
É madrugada."
Singelo e profundo, com a ternura comum aos seus versos. Gostei especialmente deste poema..
Beijo
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