segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Fato passado na memória

Assisti suas peças se unirem
E pude contribuir em sua construção
Observei a dor se esvair

Através de sua movimentação certeira
Em meu peito, naquilo que chamam coração
E em alto mar nosso navio seguia um rumo só

A mesma voz conduzia seu remo a esmo,
Numa cumplicidade perdida no tempo
E o céu ensolarado que favorecia a maré

De conquistas e brincadeiras apaixonadas,
Cedeu espaço a um céu de nuvens negras
E longas descargas elétricas ameaçadoras

E não em vão, o navio estremecia em alto mar
Sem destino ele não se decidia entre seguir ou ancorar
Em tentativas falhas de movimentação

Suas peças cederam espaço à destruição em alto mar,
O naufrágio dos sonhos que seguiam um caminho
Se concretizou e não havia recursos para voltar

No caminho, duas escolhas:
Habitar uma ilha vazia à espera de alguma gratificação do navio
Ou longas braçadas a nado rumo ao solo firme

Hesitei abandonar os destroços investidos de afeto,
Lágrimas visitaram meu rosto em desespero
E escolhi aguardar do navio alguma comunicação

E a vida seguia linear e sem flexibilidade
Para me lançar ao mundo em busca
Se novas possibilidades, aí então...

A escolha foi redirecionada, o naufrágio
Não fora esquecido, porém desinvestido
E transformado em fato passado na memória.